Olá, pessoal!
Tudo bem com vocês?
Espero que estejam todos desfrutando
de muita saúde e paz, juntamente com todos os que lhe são caro.
Carnaval passou... Aquelas folias
deixou muita tristeza em muitas famílias... Muitos partiram pra outra sem nem
mesmo ver nada... Tudo muito rápido, repentino. Alguns tiveram uma “sorte”,
digamos assim, de ter uma segunda chance e estão tendo tempo para avaliar se
vale mesmo a pena continuar levando essa vida de folia. Mas nem todos os que
estão tendo essa nova chance, irão conscientizar-se de que existe um problema
em seu relacionamento com o uso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas.
A minha postagem de hoje eu quero
narrar uma história de uma pessoa que teve essa segunda chance. Aliás, teve não
só a segunda, mas a terceira, a quarta, etc.
Foi felizardo em ter várias chances, assim como eu e tantos outros.
Recebemos há alguns meses atrás, na
Instituição de Tratamento que faço parte da equipe técnica, um jovem de apenas
26 anos, pedindo (implorando) ajuda para se internar. Seu semblante, altamente
debilitado, deixava impressão que o mesmo tinha uns 40 anos.
As marcas pelo
corpo diziam que o Poder Superior já lhe havia sido bastante generoso, pelo
fato de ainda continuar respirando, pois as cicatrizes eram de que haviam
atentado, não somente uma vez, contra sua vida. O mesmo confirmava isso numa
conversa aberta comigo, quando de sua recepção, o que simplesmente mexeu comigo
por inteiro.
Sua história de vida assemelha-se a de
quase todo adicto que entra no que eu chamo de “Submundo do Sistema”. Entretanto, existem umas coisas que nos torna
mais identificados um com o outro, pelas minuciosidades de cada partilha. E foi
o que aconteceu comigo e ele, quando começamos a falar um pouco de nós.
Falei de minha vida antes do uso de
drogas (que foram poucos anos de infância), falei de minha vida com o uso de
drogas e falei de minha vida em recuperação, de como estou conseguindo
manter-me dia após dia, sem usar drogas e falei um pouco da Irmandade de
Narcóticos Anônimos, além de falar de nosso tratamento na Instituição.
O que aconteceu naquela manhã, tenho
certeza de que iria mudar para sempre a vida daquele jovem, independente dele
continuasse ou não em recuperação, pois a experiência nos diz que, uma vez
escutada a mensagem de que "um adicto, qualquer adicto, pode parar de usar,
perder o desejo de usar e encontrar uma nova maneira de viver", nunca mais ele
conseguirá fazer uso de drogas sem que isso lhe venha em mente e lhe tire o
sossego a cada uso.
É isso o que dizem todos aqueles que
já passaram pela sala e não conseguiram continuar voltando.
Durante nossa conversa, pude ver que
ele vinha de uma família de certa condição, mas que já estava totalmente
desprezado, rejeitado pela família, largado pelo mundo e só quem se interessava
por ele, era a Justiça, pois existiam alguns Mandados em desfavor do mesmo. E isso seria um grande problema naquela hora.
O que fazer nessa hora???
Aceito ele na Instituição?
Comunico ao Diretor da Instituição, na
qual não é permitido admissão de pessoas nestas condições???? Ou simplesmente coloco na ficha dele que
não está devendo nada para Justiça???? E o meu programa de recuperação????
E onde fica meu exemplo de que há necessidade de sermos honestos consigo
mesmo???? E tudo aquilo que eu havia
acabado de dizer pra ele, de que o programa só funciona para quem consegue ser
honesto ao menos consigo mesmo?????
E agora??? SIM ou NÃO? Deixo-o voltar pra rua e continuar
aprontando????? Ou tento ajuda-lo, já
que são poucos os que estão em condições de decidir por si próprio que
necessita e quer ajuda???
Estas perguntas vêm em mente em
questões de segundos. São detalhes que podem salvar ou até mesmo condenar uma
vida. Mas quem sou eu para condenar alguém ou negá-lo o direito de se tratar??
O motivo que a Instituição alega para
não aceitar pessoas nestas condições, é de que pode haver complicações outras
além do Judiciário e o mesmo pode ser “cobrado” dentro da Instituição, haja
visto a livre entrada de pessoas na mesma, como de fato, já aconteceu em outras
CT. Por isso, algumas CT não querem aceitar pessoas que estejam nessa situação.
Chamei o monitor e pedi que ficasse
conversando um pouco com aquele jovem e me dirigi rapidamente ao Diretor. Falei
francamente do que estava se passando e o mesmo, de imediato, já balançou a
cabeça negativamente.
Baixei a cabeça e estendi-lhe o braço,
repassando os papéis preenchidos com os dados recém-obtidos do jovem em
questão. Caminhei para fora da sala e parecia que a porta cada vez mais se
distanciava, pois eu queria logo sair dali e tentar não me sentir culpado pelo
que estava acontecendo.
Tudo bem que eu não estava com culpa
alguma. Eu apenas estava fazendo a minha parte e o que, aos olhos da
Instituição, seria o correto. Mas dentro
de mim, só eu sei como estava me sentindo naquele momento.
Consegui sair da sala. Fui para a área
livre e logo se aproximou de mim outro interno e começou a conversar sobre
outros assuntos, mas eu não conseguia nem me focar no diálogo. Eu sabia que tinha algo acontecendo que
estava acabando com minha paz interior.
De repente, vi aquele provável futuro
coordenador de Instituição sendo liberado... Mas não liberado para ficar...mas
liberado para ir embora, resolver sua situação com a Justiça e depois voltar
para se tratar.
Olha só. Será mesmo que ele iria se entregar a
Justiça, dizer que queria ser internado para se recuperar das drogas???
Já estava se aproximando de meu
horário de sair e comuniquei a minha saída. O Diretor me chamou e disse que
iria me explicar (novamente) os motivos pelo qual ele tomou aquela decisão, mas
eu simplesmente disse: “Eu já sei, já conheço as normas daqui e mesmo sem
concordar, eu respeito sua decisão. Agora, infelizmente meu horário já chegou e
eu tô indo ali atrás daquele jovem, pois minha conversa com ele ainda não
terminou. Até quinta-feira!”.
Sai rapidamente e encontrei o jovem
sentado em baixo de um pé de manga, se alimentando daquela que era sua primeira
alimentação do dia... umas mangas maduras que estavam no chão.
Quando ele me viu, fez que nem me viu,
pois pensava que eu iria passar direto.
Enganou-se!!!
Eu parei... Aproximei-me... Sentei ao
lado dele, nos tijolos que havia ali naquela sombra. Tivemos outra partilha bacana e ele
ressentido dizia que iria continuar naquela vida que, segundo ele, DEUS queria
que fosse assim.
Chamei-o para que ele fosse
comigo. Ele perguntou pra onde e eu
falei. Era para uma casa de um brother
meu ali perto, que também estava em recuperação e que certamente iria nos
ajudar. Ele prontamente aceitou o
convite.
Chegando lá, fomos muito bem recebidos
e eu contei a situação. Meu amigo logo disse: “Aqui você tá em casa, mano! Se você quiser mesmo ser ajudado, pode
contar comigo. Mas se não quiser, nem
tente dar uma de bonzinho, que eu tô ligado eu tu. Vem aqui pra eu te mostrar...!”.
Pronto!! Havia conseguido um lugar para ele passar
aquele dia e, quem sabe, conseguir uma vaga em outra CT.
Conversamos por mais uma hora e meia.
Almoçamos por lá mesmo. Na parte da tarde, eu vim em casa, peguei umas roupas e
levei para ele. Chegando lá, ele estava dormindo. Fiquei conversando com meu amigo e explicando
para ele a situação com mais detalhe, já que no início não tive como falar
detalhes na frente do jovem. Este meu
amigo é dos meus e disse logo: “Cara !
Tu sabe que podes contar comigo, véi!!
Se ele quiser mesmo ajuda, tamos aqui.
Ele só não pode querer vacilar comigo, que tá ligado, né??”.
Esse meu amigo é mesmo “parada dura”.
Pra ajudar, é com ele mesmo.... Mas também se aprontar com ele...já era...
Eu sabia disso, mas era o que eu podia
fazer naquele momento. Até pensei em
trazer o jovem pra minha casa, como já trouxe outras pessoas que tiro das ruas,
mas como este meu amigo morava pertinho da CT e estava morando sozinho numa
cada grande, e também já sabia como ele era receptivo, então achei por bem leva-lo
para lá.
Fiz o certo. Os dois se deram tão bem, que começaram a
trabalhar juntos. Este meu amigo é Pedreiro
e começou a levar o jovem para auxiliá-lo.
Todas as noites, salas de
recuperação. Como não tinha NA todos os
dias na Cidade, ele frequentava também os Grupos de A.A. e foi pegando gosto
pelas Irmandades. Com poucos dias, ele começou
a adquirir as coisinhas dele. Dizia não querer contato com a família, pois
sabia que iria ouvir que aquilo era por poucos dias e que logo ele estaria
usando novamente. Preferiu deixar o
tempo cuidar das coisas.
O tempo realmente cuidou para que ele
hoje esteja bem e participando das atividades dos Grupos. Hoje ele está “limpo”,
está trabalhando profissionalmente e também está sendo Servidor de Confiança em
seu Grupo base, onde continua fazendo sua recuperação.
Conversei com ele sobre a importância
de se trabalhar os Doze Passos e ele entendeu que realmente seria importante
começar a vivenciá-lo em todas as suas atividades.
Marcamos, então, uma visita à sua
família.
Foi um momento marcante, quando ele
chegou em casa, com uma farta cesta básica para sua Mãe que, mesmo sem
necessitar tanto daquela cesta, viu-se emocionada pelo fato do filho estar
retornando com outro semblante, visivelmente mudado. Já não estava mais com os 46 kg, mas sim,
com seus 74 kg. O cabelo e a barba
feita, a roupa limpa e o “-Benção, minha Mãe!”, afirmava que aquele era um
outro filho que ela já não conhecia há mais de uma década. Agora ele era o Elizeu!
O seu verdadeiro filho!
Agora ele era conhecido pelo seu nome
e não pelo seu “vulgo”, pois o seu convívio social já não era o de outrora.
Agora ele se relacionava (e se relaciona) com outras pessoas, não que sejam de
outra classe social, mas pessoas que não usam drogas e não vivem a margem da
sociedade.
Quanto ao seu problema com a
Justiça...
Bom!!!
Isso Elizeu já está resolvendo.
Eu o apresentei a um amigo meu (agora
nosso), que é Promotor de Justiça e Pastor Evangélico, que ficou de ajudá-lo. Certamente
agora as coisas estão em seu favor.
Eu fico feliz por ter encontrado as
portas de A.A. e de NA, onde eu também pude entrar e fazer minha recuperação,
pois se eu tivesse encontrado uma Instituição como esta, que me negasse o direito
de me internar, pelo que eu me conheço, talvez eu não estivesse escrevendo aqui
esta postagem...certamente já teria morrido há tempos.
Eu e Elizeu hoje somos mais que
amigos. Aliás, eu, Elizeu e nosso amigão que nos acolheu em sua casa. Somos muito próximo um do outro. Estamos
sempre juntos, numa equipe, levando a mensagem onde quer que seja. Hoje ele tem
a alegria de acordar e ter um lar e, mais que isso, ele tem alegria em acordar
sóbrio, sem ressaca, sem ressentimentos, sem sentimentos de culpa, sem ter que
usar novamente, sem ter que sacrificar nada para conseguir a próxima dose, sem
ter que andar correndo da Polícia pelas “quebradas”...
Hoje ele está sempre visitando a casa
dos Pais, apesar de continuar morando com nosso amigo. Ele até já quis alugar um lugarzinho para
ele, mas nosso amigo disse que não quer ficar sozinho e que lá está aberto até
pra mais um que queira se recuperar, assim como o Elizeu.
Eu me alegro quando posso fazer algo
pelo meu semelhante. Estou sempre sendo alvo de críticas por agir de formas “estranhas”
com pessoas estranhas, como por exemplo, parar para dar carona a desconhecido
em estradas, etc.
Reconheço que é arriscado demais, mais
meu coração já não é tão ruim como antigamente, que eu era capaz de passar por
cima. Hoje eu já paro para ajudar e se tiver que me acontecer algo, vai
acontecer, pois eu continuarei parando.
Eu tenho que continuar lutando contra
aquilo que me levava a usar drogas e que não era somente minha vontade, mas
também meus comportamentos e um deles era justamente esse de fazer maldades.
Esta história do Elizeu é parte de
minha vida.
Que tantos outros Junior e Elizeu
possam continuar desfrutando da Dádiva da recuperação. Que possamos agir para com o nosso próximo,
assim como gostaríamos que agissem conosco.
Afinal, quem é que, num mundo de hoje, coloca dentro de sua casa, alguém
que não conhece e que vive nas ruas, que é usuário de drogas e é procurado pela
Justiça???
Obrigado, Poder Superior, por mais um
dia “limpo, Só Por Hoje!”.
Obrigado a cada um de vocês por
continuarem me ajudando em minha recuperação.
Aceitem um forte e carinhoso abraço e
bons momentos a todos.
Abração e TAMUJUNTU.
Júnior, um Adicto em Recuperação,
Limpo, Só Por Hoje!
Olá amigo! Que linda história! Acredito que sejam situações como essa que também continuam te ajudando a se manter limpo e ter a certeza de que valeu a pena tudo o que enfrentou para chegar até aqui.
ResponderExcluirAbraços TMJ!
Certamente, companheira, estas situações me ajudam bastante não somente em minha recuperação de manter-me limpo, mas também me colocam como um ser mais humano, o que eu não fui e nem poderia me tornar, caso continuasse com meus comportamentos de ativa. E com toda certeza, sou convicto de que valeu (e tá valendo) a pena tudo o que enfrentei para chegar até aqui
ExcluirBom te ver por aqui. Bons momentos pra ti, amiga!
Abração e TAMUJUNTU.
EMOCIONADA...OBRIGADO PELA PARTILHA...TAMU JUNTO AMIGO
ResponderExcluirTAMUJUNTU, Kel!!
ExcluirTAMUJUNTU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Q história mais linda, vc é um homem raro heim rsrs... Parabéns pela sua iniciativa.
ResponderExcluirGrande abraço meu amigo
Pois eh, Jé... eh acho a história um tanto emocionante...
Excluir...agora, quanto ao homem raro...rsrsrs
Valeu pela força, minha amiga!!!
Abração e bons momentos.
TAMUJUNTU.
Que história linda,vc é de fato um iluminado,já te falei isso e não canso de repetir,o Poder Superior te usa a cada instante da sua vida,cada pessoa que visita esse blog,cada pessoa que te conhece e sente essa sua energia é agraciado...
ResponderExcluirPor isso agradeço a DEUS por ter colocado vc em minha vida,TamuJuntu...