Bom dia, pessoal lindo do meu coração!
Espero que estejam todos em paz, desfrutando de muita saúde, sobriedade e serenidade, junto aos que lhe são caro.
Aqui, comigo, tudo conforme a Vontade do Poder Superior.
Nesta postagem de hoje quero aqui trazer para vocês, um sentimento que desfrutei este fim de semana.
Aliás, nem tem como descrever aqui tal sentimento. Foi algo que senti. Apenas senti, como nunca havia sentido antes. E sabemos que existem sentimentos indescritíveis... E este foi um!
Mas contarei aqui o fato e acredito que, com vossas sensibilidades, também desfrutarão o mesmo.
Tudo aconteceu no sábado (21/11/2015), por volta das 20:30hs.
Eu saí para resolver uma situação e deparei com um cidadão, morador de rua, que estava deitado as margens da rodovia federal que corta a cidade.
Ele estava completamente embriagado, todo sujo, visivelmente enfermo (com outras enfermidades além do alcoolismo) e com seus pertences (um monte de sacolas plásticas, uma bolsa e uma vara de madeira) recolhidos junto a ele.
Também havia ao seu lado, uma pequena garrafinha de cachaça, a qual estava com a maior atenção do mundo para que não a tirassem dele.
Gritava ao vento palavras impossíveis de compreender, devido ao seu avançado estado de embriagues.
Todos os que passavam pelo local, olhavam aquela cena admiradamente, sem que nenhuma atitude solidária lhes fossem possível.
Com seus olhares assustados e repugnados, desviavam e afastavam se do cidadão, como que ali tivesse uma placa "PERIGO! MANTENHAM-SE AFASTADOS!".
Ao me deparar com aquela cena, automaticamente olhei no retrovisor e parei.
Não estou me referindo ao retrovisor do veículo, mas ao meu retrovisor, aquele que olho meu passado bem próximo de mim.
Me vi direitinho naquela cena.
Era como se fosse eu quem estivesse ali deitado, rolando pelo chão. Era como se fosse eu quem estivesse ali embriagado, louco e perdido dos sentimentos.
Não hesitei em encostar e puxar uma conversa.
Mas, infelizmente, seu estado entorpecido e alucinado impossibilitou um diálogo. Estava muito louco (e pode até ter outros problemas além da dependência química).
Não sei se foi por esse motivo que as pessoas não se aproximaram, mas foi por vê-lo em meu passado e por me ver no seu presente, que parei e fiz a minha parte, para reforçar meu indulto diário e aquela cena não ser o meu futuro.
Não tenho palavras para expressar minha alegria e minha gratidão pela sanidade que me foi devolvida, pelo meu dia limpo, pela minha vida hoje não ser mais aquele inferno da adicção ativa.
O interessante é que eu até comentei com certa pessoa que estava ao meu lado na hora da abordagem, de que eu vivia daquele mesmo jeito e essa pessoa não acreditou e disse para eu não falar aquilo nem de brincadeira.
Então, mais uma vez, eu falei que não era brincadeira e que realmente eu era daquele jeito, que fui morador de rua, que havia perdido o domínio de minha vida e que eu gostava de viver daquele jeito, loucamente.
Recebi um olhar assustador e verdadeiramente não sei qual mudança poderá haver daqui pra frente.
Mas essa é a verdade de minha vida e jamais esquecerei meu passado.
Nasci em uma família com uma pequena condição financeira, tive boa educação, tinha tudo que uma criança poderia e gostaria de ter, boas escolas, etc, mas ao me envolver com as bebidas alcoólicas e com as outras drogas, abandonei tudo, inclusive o lar, justamente para viver sem que ninguém tentasse controlar minha vida.
Alguns períodos eu vivia aprontando, cometendo crimes e mais crimes e sempre tinha dinheiro para gastar como quisesse. Outros períodos eu me entregava completamente ao álcool, que foi uma das piores drogas que usei. Essa me levava às sarjetas, às calcadas, ao mais profundo fundo de poço.
Quando eu estava sem usar bebidas alcoólicas e usava outras drogas, eu fazia "meus corres" e sempre era muito perigoso à sociedade. Muitas insanidades e periculosidade numa só pessoa. Mas quando eu estava fazendo uso de bebidas alcoólicas, sempre me embriagava e era um tremendo "vacilão". Nem mesmo os meus comparsas queriam andar comigo. É tanto que todas as vezes em que fui preso, estava sempre embriagado. Nunca fui preso sem estar embriagado, mesmo fazendo as mais absurdas atrocidades.
De todas as formas, minha vida era um verdadeiro inferno!
Viver nas ruas, nas "quebradas", um dia aqui, outro dia ali, é loucura demais!
Andar catando lixo para mendigar uma dose ou entrar num banco e colocar um "oitão" na cabeça de alguém para levar dinheiro ou a vida, isso pra mim, hoje, é tudo a mesma loucura!
Por isso, hoje, só por hoje, eu faço qualquer coisa para permanecer em recuperação.
E trabalhar com meus iguais me ajuda bastante. Reforça muito o meu propósito de viver "limpo!" um dia de cada vez.
E somente eu sei o que senti ao ver aquela cena que narrei acima.
Somente eu sei o que senti dentro de mim!
Meus olhos vêem cada adicto, cada morador de rua, de uma maneira bem diferente do que a maioria das pessoas vêem. Enquanto uns olhavam (e olham) de forma assustada, os meus olhos derramam sangue.
Ali vive um pouco de mim!
Sou eu quem ainda vive ali.
Só existe uma diferença entre eles e eu. É que eu não usei drogas hoje, mas isso não quer dizer que esteja garantido de não usar. Afinal, nada que eu faça pelo meu dia "limpo" hoje, garante o meu dia "limpo" amanhã.
Cada dia é um dia em que tenho um indulto diário, o qual está condicionado com a manutenção de minha sobriedade. Sabemos que a liberdade condicional requer a obediência à algumas normas, caso contrário, a perde.
E tudo o que eu mais quero e mais preciso hoje, é ter esse indulto diário.
Só por hoje, não usarei drogas, haja o que houver!
Mas para isso, farei qualquer coisa que me livre daquela obsessão impiedosa dessa sutil, frustadora e poderosa doença, que é a dependência química.
Finalizo aqui minhas palavras agradecendo Ao Poder Superior por mais este Milagre em minha vida no dia de hoje.
Agradeço, também, a cada um de vocês que me ajudam constantemente, com suas palavras de conforto e segurança.
Agradeço a cada e-mail, mensagens, telefonemas e partilhas que recebo todos os dias.
Agradeço a cada recadinho deixado no nosso whatsapp, ajudando-nos a fazer o nosso Programa A Voz da Sobriedade.
Falar nisso, quero aqui agradecer, carinhosamente, a minha amiga Poly, do blog Amando Um Dependente Químico, que teve participação conosco em nosso programa passado e alegrou muitos familiares com a experiência compartilhada.
Valeu, Poly, pela sua participação! Sei que ainda estou de débito contigo, pois tenho que te mandar as mensagens que nos foram enviadas e recadinhos diretamente para você. Aliás, tem perguntinhas que gostaria que você respondesse para esse programa de quarta feira.
Para quem ainda não acompanhou nosso programa, segue abaixo os links que transmitem ao vivo nosso programa A Voz da Sobriedade.
Cabe aqui dizer que, embora os links sejam, em sua maioria, de Igrejas Católicas, mas o nosso programa não tem ligação com nenhuma religião e nem tão pouco falamos do assunto. Portanto, nosso programa é totalmente independente e aborda apenas assuntos ligados a dependência química.
Fiquem a vontade para participar conosco, enviando sua experiência como adicto ou como codependente, ou mesmo sua experiência profissional de trabalhar com dependentes químicos, ou qualquer outra informação que julgues interessante compartilharmos no programa.
Nossos contatos: +55 99 98343-0121 / +55 99 98151-9727
E-mail: treinamento.consultoria@hotmail.com
Um forte e carinhoso abraço a cada um de vocês e até o nosso próximo encontro.
Eu continuo sendo o Júnior, um adicto em recuperação, "limpo", só por hoje.
TAMUJUNTU.
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