Saudações, queridos(as) companheiros(as)!
Estou certo de que estarei vos encontrando
desfrutando de saúde e paz, juntamente com todos os que lhes são caro.
Aqui, comigo, tudo sobre controle. Estou bem,
com saúde e em paz.
Esses dias em que fiquei sem postar pode dizer
que meu irmão está bem, está limpo esses dias e temos mantido contato
frequente. Estou me referindo a um deles, pois os outros eu não tenho notícias.
Ontem encontrei um brother das antigas, que
estava em Reclusão por tráfico e saiu há dois meses. Ele estava com o uniforme
da empresa onde está trabalhando e isso me alegrou muito. Disse estar sendo
crente e que está dormindo no albergue. Disse que não tem mais nem vontade de
usar, que já recebeu várias propostas para comercializar novamente, mas não
pretender mais voltar ao crime. Trocamos umas ideias, falamos sobre uns brother’s
que já se foram e ele seguiu o caminho dele.
Em contra partida, um grande amigo meu, que é
um Policial Federal, cujo já teve conosco nos Grupos, que estava limpo há algum
tempo, teve uma recaída. Ele já estava de atestado médico por conta de sua
adicção. Esses dias ele fez uma insanidade e está preso novamente. Dessa vez,
ele doidão, estava namorando uma garota de 15 anos há mais de um mês, ela
também usuária, ele achou por bem querer interna-la, mesmo a força. Conseguiu um
atestado médico e foi pegar a jovem, que se recusou. Ele chamou um taxi,
amarrou a jovem, deu uns tapas nela, a jogou dentro do carro, seguiu para uma
agência bancária, fez um saque, pagou ao taxista e seguiu para um posto de
gasolina para abastecer. Em seguida, ele mandou que o taxista levasse a jovem para
o endereço já informado, também já havia se identificado como Policial Federal
e entregou um distintivo e o atestado médico. Nisso ele entrou no carro dele e
voltou. O taxista seguia viagem enquanto a jovem gritava e pedia para ele
parar, afirmando que aquele homem era louco, era usuário de drogas e tal.
Avistando uma amiga, ela pediu para o taxista parar. Ele parou. A amiga ajudou
a jovem a se desamarrar e foram todos para a casa da jovem. Chegando lá,
chamaram a policia. E meu amigo foi conduzido à delegacia onde recebeu voz de
Prisão e agora está sendo acusado de Sequestro. Tá a maior doideira aqui.
Imagine o cara doidão, “lombrado”, ao invés de se tratar, queria era internar a
menina. Agora tá rodado, podendo até ser expulso da PF.
Fazer o que, né? Se bem que estamos aqui
tentando ajudar, na medida em que nos é possível.
Irei fazer este post em cima de um e-mail que
recebi recentemente, de uma amiga nossa, questionando sobre como lidar com um
Recluso (preso, detento) que é adicto. Trocamos algumas informações e tentei
lhe repassar algo que acredito ser útil para saber como lidar nessas situações.
Assim que terminei de enviar o primeiro e-mail a esta amiga, logo me veio em
mente fazer um post (na real, outro post, pois já fiz um), falando sobre esse
assunto.
Realmente é complicado falar assim, alguma
coisa que possa ser eficaz, de maneira imediata, para casos de Reclusos que são
adictos. Sabemos que Dependência Química (DQ) é uma doença tão complexa que
temos que tratar cada caso diferenciado. Mesmo que estejamos trabalhando com
adictos que fazem uso de uma mesma substância, (ou das mesmas substâncias),
ainda assim, cada caso é um caso. Adicção às drogas varia de indivíduo para
indivíduo, em sua forma de manifestação e consequências e, consequentemente,
seu tratamento e recuperação também. Por isso, não é só o fato de estarmos
trabalhando com adictos e/ou com Reclusos, que as medidas são via de regra,
pois existem coisas que precisam ser colocadas em evidência para que se possa
saber como fazer, com que linha trabalhar... Tanto com o Recluso, quanto com o
familiar.
Inicialmente eu quero fazer algumas
considerações que julgo serem importantes: uma delas é no tocante à forma de
ver o Dependente Químico. Isso fará toda uma diferença. É preciso saber que
estamos lidando com um doente e que, como tal, tá mais precisando de ajuda do
que punição. Entretanto, como Recluso, ele está sendo punido na forma da Lei, o
que não deixa de ser uma situação que nos coloca em meio que a margem de nossos
controles emocionais, por querer vê-lo liberto tanto das drogas, quanto das
grades. Daí, então, mais do que nunca, é necessário aquele velho desligamento
emocional, pois de nada ajudará você também ficar “preso(a)” a situação com
sensação de impotência.
Portanto, uma coisa é vê-lo como um doente que
necessita de ajuda, de tratamento etc...e outra coisa é vê-lo como um
coitadinho, carente de mimo e paparicagem. Uma coisa é vê-lo com adicto e outra
coisa é vê-lo com um Recluso adicto. Como Recluso, é fato que ele está (em
grande maioria dos casos), colhendo o que plantou. Ele está simplesmente
pagando pelo que deve. Isso em grande maioria dos casos, pois é certo que
existem alguns casos em que o Réu é inocente.
Sempre digo que é mais difícil o trabalho com a
família (codependentes em geral), do que com os próprios adictos, pois os
codependentes sempre estão usando o emocional à frente de seu racional e em DQ
o emotivo tem que vir após a razão. Em DQ, quando somos ligados ao sentimento
de proteção, utilizando o emocional de forma que prive o racional, isso implica
em resultados adversos aos esperados e desejados. Esse é o principal motivo de
se trabalhar o chamado DESLIGAMENTO EMOCIONAL.
Aliás, independente que seja em nossa vida de
relacionamentos com adictos ou não, mas viver com certo controle de nossas
emoções, faz muito bem a qualquer ser humano. ...principalmente no caso de
lidar com adictos.
Não que seja via de regra, mas temos a FAMÍLIA
como um dos pilares onde o adicto em recuperação possa conseguir apoio. Entretanto,
para que isso aconteça, a FAMÍLIA, necessariamente, tem que estar estruturada e
saber como apoiar, caso contrário, será mesmo que entregar um cachimbo e uma
"paradinha" pra ele usar.
O adicto é tão manipulador que busca qualquer
desculpa para usar. Quando não tem desculpa, ele inventa, cria.
Por isso, é bom que a FAMÍLIA esteja disposta a ajudar, primeiramente
fazendo a sua parte, que é conhecendo o problema, se colocando como se fosse o
adicto, e procurando a sua recuperação também, até mesmo porque Co-dependência
adoece tanto quanto a Dependência em si.
Quando falo de FAMÍLIAS, abre-se um leque
enorme, pois há casos que estamos lidando com um Recluso que só tem a esposa como
familiar que pode fazer visitas. Há Recluso que só tem o Pai; já outros só têm
a Mãe; há quem só tenha os filhos; há quem só tenha o namorado ou a namorada;
há aqueles (as) que tem toda uma família, mas que ninguém quer nem vê-lo, como
foi o meu caso em minha última detenção. E cada um destes casos é uma situação
diferente, pois pode acontecer (e geralmente acontece) de um dos familiares que
não é favorável à visita, ser um grande empecilho para que o Recluso seja
assistido por visitas familiar.
Imagine o caso em que a esposa não quer ir
fazer visitas ao marido, os filhos querem, mas a mãe não permite! Imagine um
caso onde a mãe quer fazer a visita ao filho, mas depende das condições
financeiras do esposo e esse é totalmente contra a visita ao filho! Imagine um
caso onde os pais proíbem a filha de visitar o namorado, pois são totalmente
contra o relacionamento deles!
Então, como podemos ver cada caso é uma
situação bem diferente e que requer discernimento para que possa ser solucionado,
para que não aumente ainda mais os conflitos familiares.
Algumas vezes, para que essas pessoas possam
fazer visitas aos seus familiares em Reclusão, eles têm que mentir, enganar,
dizer que vão para um canto e vão para outro, dizer que precisa de dinheiro
para uma coisa, sendo pra outra. Isso não é nada bom, principalmente por
estarmos aqui aprendendo a lidar com ressocialização e um dos pontos
fundamentais a serem trabalhados é a HONESTIDADE. Então, se a gente vai cobrar
HONESTIDADE, obrigatoriamente teremos que sermos HONESTOS. Logicamente
que isso dá certo trabalho e não vai ser de uma hora para outra que o(s)
familiar(es) vai abrir mão dos critérios, conceitos, pontos de vista e opiniões
formadas. E isso nós também teremos que entender. Mas, sabendo contornar a
situação, isso vai se resolvendo com o tempo.
Agora quero fazer referências quanto às visitas
lá na Instituição. É preciso saber qual o papel dela na recuperação do Recluso
adicto. Quem já leu o meu blog, certamente já deve ter visto como eu faço
referências às visitas dos amigos e familiares. Sempre que vejo algumas das
minhas amigas de blog comentando que estão passando por estas situações, eu
chego junto e faço comentários sobre a importância da visita. A visita para
quem está lá é tão importante quanto uma bússola para quem está perdido em meio
ao deserto.
A visita ao detento é tão importante quanto aquele cordãozinho que
tem no paraquedas, para quem faz salto em alturas. Um detento sem visitas é
como um time sem torcidas. Isso não quer dizer que os Reclusos que não recebem
visitas, não terão reabilitação, ressocialização. Não, não! Não é isso!
Logicamente que cada caso é um caso. Claro que existem pessoas que estão lá
dentro e não recebem visitas e consegue “tirar” de boa a cadeia. Mas devemos
lembrar que estamos lidando com um Recluso que é um adicto. (Se bem que grande
maioria dos Reclusos dos Sistemas Prisionais são adictos). Devemos lembrar que
estamos lidando com um Recluso que é um adicto e que não está em Recuperação.
Cada visita deveria ter uma finalidade e não somente suprir a ausência do
contato do Recluso com o mundo exterior aos muros. Cada visita deveria
ter uma finalidade específica, considerando cada Recluso que a está recebendo.
Cada visitante deveria saber qual o seu papel ali como tal, fazendo com
que a visita em si seja propiciadora de momentos de reflexão por parte do
Recluso, fazendo-o reconhecer que a liberdade não necessariamente está no livre
direito de ir e vir, mas também no livre arbítrio de escolhas, de decisões, de
ações, etc.
Muitos dos Reclusos que ali estão já chegaram
ali sendo detentos do Submundo do Sistema. Grande parte dos Reclusos foram
apenas transferidos para presídios e penitenciárias, mas na real, na real, já
estavam presos às drogas, mesmo nas ruas.
Por isso, é interessante que cada visitante
saiba como fazer nas suas idas às Unidades Prisionais, para que aquelas visitas
não sejam apenas meras visitas, simples passar tempo e matar saudades. É
interessante que cada visitante saiba como "trabalhar" para que
àquele que o recebe lá dentro, possa aderir ao processo de reabilitação e reinserção
social, pois o que deveria ser responsabilidade do Estado, (sabemos que não é),
passa a ser somente responsabilidade nossa.
Assim sendo, considero a visita a um Recluso como fundamental para que ele não se sinta sozinho, vendo alguns outros recebendo visitas e ele sentindo-se excluído e rejeitado. Mas também é importante que saibamos como fazer e o que fazer em cada visita. Não sendo assim, é só se colocar em situação de risco (haja vista as condições de superlotação dos sistemas penitenciário, propício a rebeliões constantes). Pergunte a minha esposa o que é passar uma rebelião lá dentro que ela vai te dizer o que é um inferno.
Sempre que puder, façam uma visita. Sempre que
puder, façam visitas não somente ao seu familiar, mas façam visitas a quanta
pessoas vocês puderem, independente de ser numa Instituição Correcional ou de
Tratamento. Solidariedade é algo que dignifica o ser humano e que alegra nossa
alma, no deixando mais felizes e gratos pela Dádiva de dar, ao invés de
receber. O que de fato recebemos são as Dádivas Divinas.
Alguns outros fatores também são interessantes
serem considerados quando do lidar com Recluso adicto, como, por exemplo, ligação
dele com amigos ou comparsas, trabalho (se mantinha ou não), quanta vez já
passou ou submeteu-se a tratamento e detenções, medicações que faz ou fez uso,
outras comorbidades, etc... Isso são pequenos detalhes, mas que faz
diferença na hora de direcionar um alguma atividade que possa auxiliá-lo (o
Recluso) lá onde ele encontra-se, ou seja, não que as famílias vão lá para
desenvolverem atividades, mas que as visitas sejam de forma mais assertivas,
desenvolvidas com critérios que possam auxiliar na reabilitação dele como
Recluso e recuperação dele como adicto.
Uma coisa é tratar um Dependente Químico quando
em liberdade e outra coisa é tratar de um Dependente Químico quando em
Internação e outra coisa é tratar de Dependente Químico quando em reclusão.
A FAMÍLIA pode (e deveria) ser um dos pilares
fortes para o auxílio na recuperação do adicto, entretanto, TODA RESPONSABILIDADE
DE RECUPERAÇÃO RECAI SOBRE O ADICTO. O adicto é quem é responsável pela sua
recuperação. É ele (o adicto) quem deve reconhecer que precisa de ajuda, que
deve aceitar ajuda e que deve se ajudar também, facilitando para que os que o
apoiam, possa fazer a parte que vos cabe. Diante disso, qualquer conduta
errônea que o leve a Reclusão, não pode ser considerada como uma falha da
família. Ou seja, a família não foi responsável pelos erros dele. E quando em
Reclusão, caso o comportamento dele lá dentro não seja o mais correto e o mesmo
ainda continue fazendo uso de substâncias, também não deve a família se culpar
por isso. Não foi a família quem colocou forçadamente a substância nas mãos e
na boca dele. Não foi a família quem o obrigou a usar. Foi ele quem foi
procurar. Foi ele quem teve a iniciativa de ir atrás.
POR QUE ELE NÃO FOI ATRÁS DE ALGUÉM PARA
AJUDÁ-LO A NÃO USAR? (nem todos Reclusos são usuários).
POR QUE ELE NÃO FOI ATRÁS DE ALGUM LUGAR PARA
ELE COMPARTILHAR A SOBRIEDADE? (Tanto os que estão em liberdade, quanto os que
estão em Reclusão, conseguem encontrar onde compartilhar).
POR QUE ELE NÃO FOI ATRÁS DE MEIOS PARA CONTINUAR
LIMPO??????????
Resumindo, foi ele quem usou de pretextos para
usar. Ele queria apenas uma desculpa para usar. E digo mais ainda.....quando um
adicto usa de desculpas para usar e o familiar vai de encontro, dizendo que
isso foi desculpa dele, que era isso mesmo o que ele queria, isso faz com que
ele perceba que os seus "geniais planos manipuladores" já não estão
mais tão bem aplicados e eficazes. Porém, quando ele usa de desculpas para usar
e o familiar concorda assim de cara que realmente ele teve motivos para usar,
que o local favorece o uso, que realmente ele tinha que usar para suportar a
Reclusão, ou que teve culpa para que ele recaísse....pronto!!! É o
que ele queria. Daí pra frente ele vai querer sempre alimentar-se de que tem
todos os motivos do mundo para usar, pois tem sempre "alguém" ou “algo”
fazendo com que ele use.
Então, embora reconheças que não estás
auxiliando para um bom andamento do tratamento e recuperação dele, ainda assim,
tenhas sempre em mente (e deixe claro isso para ele também), que TODA RESPONSABILIDADE
DE RECUPERAÇÃO RECAI SOBRE O ADICTO.
Só o passo que a família está dando de querer
ajudá-lo já é um passo importante para que possas buscar conhecimento de como
fazê-lo. Só o fato de buscar conhecimento de causa, já dá base para fazer as
coisas com coerência, o que é fundamental para que possamos conseguir os resultados
esperados e desejados...ou, pelo menos, reduzir os danos causados pela adicção ativa
e, consequentemente, a Co-dependência.
(Trata-se aqui de uma política de Redução de Danos do MS).
O que mandar lá para dentro? Com que frequência mandar?
Esse é um ponto onde muitas famílias falham.
Normalmente as famílias se preocupam tanto com a situação do seu Recluso, que se
pudesse, trocaria a sua liberdade pela Reclusão dele. Geralmente as famílias
mandam tanta coisa lá pra dentro, que ele nem tem como guardar tudo e, como não
podia ser diferente, negociam os pertences que, muitas vezes, foi adquirido de
forma tão esforçada, suada e endividada...
Alguns Presídios e Penitenciárias não permitem
a entrada de alimentos. Já outros permitem, e há famílias que fazem questão de
levar todos os dias o almoço do familiar.
Quanto à higiene pessoal, grande parte do que
entra trazido pelas visitas, são usados como moeda de troca. Por isso, é
interessante fazer uma política de administração dos materiais que devam ser
levados para os Reclusos e de que forma quantitativa e periodicidade isso deva
ser feito. Não é bom que seja levado constantemente e nem em grandes
quantidades. Levando em grande quantidade, até o básico vira supérfluo. Alguns
aqui podem até dizer: “mas ninguém leva nada em grandes quantidades lá pra
dentro!”.....errado! Há, sim, quem leva grandes quantidades. E digo mais ainda.
Você acha que dois sabonetes são grande quantidade? Bom! Dependendo da situação, sim. Se houver
visitas semanais, logicamente que dois sabonetes são grande quantidade para ser
levado semanalmente. E há famílias que faz isso, pois ele diz que usa muito,
que tem que tomar banho direto para não pegar doenças e tal...aquele velho papo
que a gente já conhece.
Algumas Instituições Correcionais não são
permitidas levar roupas, pois são usados uniformes. Mas há algumas que não há
uniformes e as roupas são trazidas pelas visitas. Isso é outro problema, pois
vira comércio na certa. Tem família que pensa que o Recluso tá trabalhando com
modas e leva tanta roupa de grife, que nem quando ele estava solto usava.
Livros é uma opção excelente. Entretanto, é bom
saber se ele está se identificando com a leitura e tal. Existem várias
literaturas que pode auxiliar tanto ele, quanto a família. A propósito, é
interessante que a família procure frequentar algum Grupo de Nar-Anon.
Também é bom que ele
esteja tendo contatos com outros adictos em recuperação, que podem ser outros
Reclusos e/ou alguém do H&I (Comissão de Hospitais e Instituições da
Irmandade de Narcóticos Anônimos) que tenha na Instituição.
Faço aqui um pequeno comentário sobre as
visitas. Se não souberem conduzir a visita logo na primeira vez, o Recluso
aproveitará a fragilidade, o nervosismo, a tensão e a inexperiência do
visitante, e aí será ele quem a conduzirá...e todas as demais visitas serão
conduzidas por ele. Aí, vai ser mesmo que a família tá indo lá somente para matar
a saudade.
- Como conduzir a visita? Se chega bravo(a),
carinhoso(a), se conversa coisas legais, coisas sérias. Usemos o bom senso
aqui: - suponhamos que você esteja preso(a) há um bom tempo. (Quando digo bom
tempo, pode ser até mesmo um dia, pois prisão, nem de ventre é bom. Por isso,
um dia preso equivale há uma eternidade aqui fora). Então, suponhamos que você
esteja lá, preso(a) há um tempão e chega seu familiar. Pergunto-lhe: - O que
gostaria que ele falasse? - Gostaria que ele viesse brigando contigo? -Gostaria
que ele viesse com ignorância para contigo? -Como reagirias se ele te abordasse
assuntos não convenientes para com a situação? -Acharias legal ele ficar o
tempo todo chamando sua atenção pelo erro que te fez estar ali? - Irias gostar
de ser colocado(a) novamente no banco do réu?
Bom....estas perguntas deixo a vosso juízo
respondê-las. Sua própria consciência é quem vai te responder. Entretanto, o
que eu sugiro é que deve, sim, tocar em assuntos que o faça refletir sobre a
sua vida pregressa, não o martirizando, mas de forma compreensiva e sutil, para
que ele entenda que errou e que isso trás consequências. Mas atenção! Seria
interessante que fosse de uma forma que ele ficasse reflexivo após sua saída da
Instituição e não no momento da visita, pois pode atrapalhar toda uma
permanência sua naquele dia, bem como em outras eventuais oportunidades.
Muitas vezes, é necessário um trabalho bem
minucioso e talvez de forma sutil, para que os aspectos tais como
disciplina, autoridade, pontualidade, etc, possam ser trabalhados. Teoricamente
isso faz parte do Projeto de Ressocialização dos Sistemas Penitenciário
Brasileiro, segundo o próprio Ministério da Justiça. Inclusive, recentemente,
foi anunciado que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério
da Justiça, vai disponibilizar R$ 4 milhões para ressocialização de Reclusos Ministério da Justiça reserva R$ 4 milhões para ressocialização de presos. Entretanto, vai
ver isso na prática como funciona! Ou melhor, não funciona...cadeia no Brasil
não ressocializa ninguém. Muito ao contrário, piora ainda mais o indivíduo. Ele
entra lá com uma pensão alimentícia e saí de lá com curso de especialização em
furtos de carro, tráfico de drogas e principalmente, estelionato, que é o que
mais tem dentro das Unidades Prisionais, é detentos dando golpes através de
ligações.
O que mais temos são Unidades Correcionais superlotadas, com mais que
o dobro da capacidade. Como se podem aplicar medidas socioeducativas, etc, à
uma super lotação, onde consequentemente falta estrutura de alojamento e, em
contra partida, facilita motins?
Esse dinheiro que será disponibilizado?? Rum!!
Num quero nem falar sobre isso.
Como falei anteriormente, é interessante a
participação da FAMÍLIA no processo de ressocialização do Recluso, haja vista
que o Estado deixa muito a desejar, portanto, se ele não tiver o apoio, a
estrutura FAMILIAR bem solidificada, certamente terá mais dificuldade de
conseguir um retorno social de forma lícita, íntegra e produtiva.
Volto a dizer, que isso não significa que os Reclusos
que não têm visitas e nem FAMÍLIA, obrigatoriamente estão impossibilitados de
conseguirem se reabilitar. Não é isso! É tanto que eu "morei" um
tempo numa cela com um Recluso que não tinha visitas. A FAMÍLIA o abandonou
quase por completo, com exceção de uma irmã que lhe fazia visitas a cada dois
meses, pois morava no interior do Estado, porém, este cidadão estava totalmente
reabilitado e o tempo em que passou no Presídio foi bem maior que o tempo
previsto em Lei, pois ele estava totalmente desassistido de Defensor
Público, não tinha ninguém acompanhando o Processo e o caso dele era um Furto
na residência de um Juiz de Direito. Isso fez ele mofar na cadeia....mesmo
assim, estava consciente de sua vida errônea, e deu início a uma nova maneira
de viver após encontrar uma oportunidade de conhecer pessoas que haviam passado
pelos mesmos problemas e estavam conseguindo superar, um dia de cada vez.
É preciso ter BOA VONTADE, MENTE ABERTA E
HONESTIDADE...sem isso, dificilmente há recuperação. Se ele acha que ainda
tem poder sobre as drogas, lamento por ele.....não vai parar de usar enquanto
não reconhecer que perdeu para as drogas. Enquanto não reconhecer que é
impotente perante uma dose, por menor que seja... Enquanto isso não acontecer,
ele jamais irá manter-se limpo. Como diz a Literatura de NA, “Um adicto que não
queira parar de usar, não vai parar de suar. Pode ser analisado, aconselhado,
pode se rezar por ele, pode ser ameaçado, surrado ou trancado, mas não irá
parar até que queira parar”.
Lembrando que não sou dono da razão e quaisquer
colocações minhas aqui, todos têm o total direito e liberdade de rebatê-las, de
forma que possamos refiná-las para que tenhamos condições de obter os
resultados desejados e esperados.
Desejo a todos felicidade e saúde, e que possam
desfrutar de bons momentos.
Abração e TAMUJUNTU.
Júnior.