Acabei de chegar de mais uma viagem ao Interior do Maranhão. Fui lá visitar o Grupo que estamos apadrinhando em sua formação. Uma Reunião maravilhosa aconteceu na terça-feira (08/11/2011). Sala cheia. Visitantes. Familiares presentes. Ingressaram mais 04 (Quatro) companheiros. O Grupo está tendo ingressos quase em todas as Reuniões. Fantástico!
Após a Reunião, aquele bate papo gostoso entre os companheiros. Fomos tomar um refrigerante e presenciamos cenas de pessoas alcoolizadas, o que foi motivo de alguns comentários entre os companheiros, tipo, "é assism que eu ficava quando tava bêbado!".
Fiquei ontem lá na Cidade, para resolver uns negócios. Conversando com algumas pessoas que sabiam da existência do Grupo, escutei comentários tipo: "Foi a melhor coisa que aconteceu aqui na Cidade. Tô vendo que tá ajudando a muita gente e as famílias tão gostando."
Ontem a noite, ainda na Cidade, fui jantar no Mercado Público. Já era tarde da noite. Olhei alguns lugares que servia refeição e vi um que estava cheio de pessoas visivelmente embriagadas. Dentre estas pessoas, alguns índios, pois a Região é cheia deles.
Pessoas visivelmente prejudicadas pelo seu beber destrutivo. Ou seja, pessoas que já estavam a mercê da bebida alcoólica. Alguns deles nem conseguiam sentar nas cadeiras. Estavam no chão. Já alguns outros que estavam sentado, brigavam pelo pouco de comida que tentavam dividir. Percebi, então, que alguns deles estavam quase se desentendendo...fato comum entre pessoas alcoolizadas.
Eu estava longe de casa, numa Cidade onde não conheço muita gente e logo me veio em mente o seguinte: "Vou ficar distante, pois do jeito que eu tenho sorte pra confusão, isso vai terminar vindo pro meu lado!".
Entretanto, ao mesmo tempo que me veio este pensamento, ou talvés até mesmo antes dele, já havia passado pelo meu pensamento (e também pelo meu coração), de que eu deveria me aproximar daquela banca e sentar ali, pertinho deles, pra levar a mensagem de que "HÁ UMA SOLUÇÃO!".
Não pensei duas vezes! Fui pra lá.
Quando me aproximei, a dona da banca lembrou-se de mim, pois eu havia jantado lá outras vezes, e cumprimentou-me! Foi logo dizendo pra dois deles! "Ei! Vocês dois aí....afasta mais pra cá pro homem sentar aí....bora! vaí logo!"
Eu disse: "Pode deixar, Senhora! Dá pra mim sentar aqui! O que a Sra tem hoje pra jantar?"
Pedi logo uma garrafa d'agua e ela trouxe. Tomei um copo d'agua e um dos homens pediu a dona da banca água para beber e ela disse que já havia dado água. A garrafa que ela trouxe para mim ainda estava praticamente cheia, em cima da mesa. Um outro disse:"Pega essa aí que ela trouxe pro homem".
O outro respondeu: "Não! Essa aí é do homem!"
A dona da banca escutou e disse pra eles não mexerem na minha água e, ao mesmo tempo, eu falava pra eles beberem, que não tinha problema algum.
Um deles olhou pra mim e disse: "É o primeiro que aparece por aqui que num diz piadinha com a gente e ainda permite que a gente tome da água dele"
Aí eu disse que não tinha nada demais eles beberem água, inclusive, ofereci meu copo para um outro tomar, enquanto o outro tomava também.
Percebi que a dona estava já prestes a falar novamente com eles, pois eles já estavam puxando muita conversa comigo e, quando ela veio de lá pra cá com minha refeição, eu já fui logo perguntando: "Quem de vocês tá com fome?"
Apareceu a grande maioria. Um deles me pediu um dinheiro pra comer um feijão e eu disse que se ele quisesse comer, podia pedir que eu pagava. Sentaram junto na mesa comigo e começei a falar de mim. Falei que eu também passei uns dias bebendo e dormindo pelas ruas. Começei a demonstrar que entendia a situação deles e me importava com cada um deles. Logo fui visto com outros olhos pela dona da banca, que me perguntou se eu havia passado mesmo por aquilo que eu estava falando.
Cada um contou um pouco de sua vida. Percebi em cada história, um desabafo de despreso e solidão. Percebi que a descriminação estava sendo o principal fator que os impediam de buscar a recuperação.
Quase todos eles já haviam tentado buscar ajuda, mas as pessoas se afastavam.
Sabe, gente? Eu sei como é que é isso. Eu passei por esta situação que eles narravam. Eu entendo perfeitamente como eles se sentem.
Não tô aqui querendo falar de ninguém, sabe? Mas só o fato de a gente passar por um cidadão ou cidadã e vê-lo(a) sentado ou deitado no chão, embriagado e não fazer nada, já é um preconceito, uma discriminação...sabia disso?
Se percebemos que tem um familiar nosso nesta situação, tipo, um filho, por exemplo, logo nos aproximamos, etc. Mas quando é um desconhecido, nem nos importamos.
Claro que nem todo mundo é assim, lógico! Mas tenho certeza de que grande parte das pessoas ainda agem desse jeito. Eu acredito que as pessoas que já tem conhecimento da doença, já têem uma visão diferente da situação, fazendo com que elas também ajam de forma diferente.
Só sei que eu passei horas ali conversando com eles. Foi como se eu estivesse naquele meus dias morando na rua. Por alguns instantes, me lembrei de quando eu vivia nas ruas, mendingando para poder me drogar. Cometendo atos insanos para poder conseguir minha substância de preferência.
As pessoas que passavam por ali, ficavam sem entender nada, pois não sabiam como eu conseguia me comunicar com aquelas pessoas altamente alcoolizadas, que nem conseguiam falar direito.
Mas o que nós estávamos conversando ali, nem o mais exímio poliglota poderia entender...a não ser que ele também tivesse falando a linguagem do coração.
Fui pagar a conta e a dona disse: "Moço! Só uma curiosidade! Eu tenho visto o Sr aqui toda semana, de um tempo pra cá! O Sr. trabalha com que mesmo?"
Aí eu respondi. Falei que tenho minha profissão e disse qual era. Mas deixei claro que minha ida naquela Cidade era com uma finalidade diferente. Não tinha nada haver com meu trabalho. Eu estava ali voluntariamente, para ajudar na formação de um novo Grupo de nossa Irmandade. Expliquei para ela como funcionava e ela disse que já tinha escutado falar que havia começado mesmo isso por lá.
Então, ela perguntou: "Quer dizer que o Sr é quem dá as palestras aqui pra eles, é?"
"Negativo, minha Senhora!" - respondi. "Eu apenas venho aqui compartilhar minha experiência com eles e ver as experiências deles, para me ajudar a permanecer mais um dia limpo, só por hoje."
Falei pra ela que havia me fortalecido bastante com aquela conversa naquela noite com aquelas pessoas que estavam ali nos arredores da banca dela. Disse pra ela que dali podia surgir futuros pais de família, futuros homens de negócios, futuros exemplos de que a recuperação é possível. Disse que tudo dependeria da força de vontade deles, porém, disse que a ajuda de terceiros é tão importante, que pode fazer toda uma diferença. Terminei dizendo que a melhor ajuda é não atrapalhar e que o preconceito e a discriminação atrapalha bastante.
Voltei para o hotel e, ao chegar em meu quarto, quase não consegui dormir. Passei horas me lembrando dos meus dois irmãos, que uma hora dessas tão lá pelas ruas de Recife/PE, deitado pelas calçadas ou sei lá onde. Fiquei imaginando se eles tavam com um cobertor. Se eles já haviam se alimentado. Se estavam machucado fisicamente, pois sei que emocionalmente, psicologicamente, etc....nem se fala. Foram tantas coisas que me viam a cabeça que me tirou o sono.
Fiquei chorando, mesmo sem querer chorar.
Resolvi apenas conversar com O PODER SUPERIOR. Fui agradecer por mais um dia. Por mais um dia de vida. Por mais um dia limpo. Agradecer pela Dádiva de poder dar de graça o que de graça recebi (e ainda recebo). Fui ver o quanto estas Irmandades que faço parte tem me ajudado.
Ao amanhecer o dia, recebo umas mensagens em meu celular e uns emails. Ambos totalmente contraditórios. Enquanto que o email, que era do pessoal do meu trabalho, dizia, entre suas palavras, "...que eu deveria voltar às atividades, porque trabalho voluntário não enchia barriga de ninguém, não", ao contrário disso, a mensagem no celular dizia: "Valeu, companheiro! Sua vinda aqui tem sempre fortalecido nosso propósito de ficar limpo, só por hoje! Que o Poder Superior continue te dando forças para continuar fazendo este trabalho lindo que você faz! +24hs. SPH"
Sabe de uma coisa? Eu vou fazer que nem li o email da empresa. Vou fazer de conta que nem trabalho com eles. Acho melhor assim. Porque eu sei que se eu der mais importância ao meu emprego de que a minha recuperação, não demorarei muito para voltar a usar.....e seu eu usar, eles não me querem lá trabalhando com eles.
Assim sendo, vou voltar ao meu trabalho, agradecido por tudo, ignorando o email e me programando para voltar nesta Cidade na semana que vem. Sei que vou "comprar" outra briga no meu trabalho. Afinal, eles não entendem mesmo a importância de um trabalho voluntário.
Mas eu tenho certeza de que, com um pouco de diálogo, conseguirei arrumar as coisas. Caso contrário, vocês já sabem qual é a minha alternativa, né? Nem precisa eu dizer! rsrsrsrsr
Nem todos conseguem perceber a importância do trabalho voluntário.
Temos visto situações onde as ações conjuntas entre o Poder Público e Sociedade Civil Organizada, conseguem realizar serviços sociais tanto quanto algumas ações voluntárias desenvolvidas isoladamente por este mundo a fora.
Temos exemplos de ações voluntárias que conseguem, até mesmo superar as demandas dos atendimentos e/ou serviços, em si comparado com os que são oferecidos comumente pelos profissionais remunerados.
Entretanto, nem todos conseguem perceber a importância do trabalho voluntário!
Mas sabe quem consegue perceber o seu real valor?
Sabe quem consegue enxergar a sua importância em ser um voluntário?
Se você conseguiu adivinhar que consegue perceber a importância dos trabalhos voluntários, das duas, uma: ou você já foi voluntário...ou já se benificiou de algum trabalho ou serviço de voluntários!
Não tenho dúvidas disto!
Quem nunca prestou um serviço voluntário, ou mesmo quem nunca se benificiou de nenhum deles, JAMAIS pode entender sua real importância!
Talvés, quem sabe, pode até ter uma noção, assim, lá beeeeeeem looooooooonge do que realmente consegue-se com tais atividades voluntárias.
Eu sempre digo que, no trabalho voluntário, não há distinção entre qual parte proporciona o benefício e qual parte recebe o benefício. Na real, na real, no trabalho voluntário, há um só corpo, uma só missão...uma parte que se torna um todo.
No trabalho voluntário, todos saem ganhando! E eu ainda digo mais...quem mais ganha é quem se doa para executá-lo.
Pessoas que se doam como voluntário, seja lá de qual atividade for, sempre está desfrutando das Dádivas de sentir-se útil; sempre está desfrutando da alegria de saber que pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida de nosso(a) irmãozinho(a). A pessoa que participa voluntariamente de quaisquer que seja a ação, está sempre conseguindo desfrutar de uma paz interior, de uma sensação de missão cumprida, que não tem dinheiro no mundo que pague esse sentimento.
Nem mesmo o êxito ou a realização da mais difícil e complicada tarefa remunerada pode ser comparada com a felicidade desfrutada pelo mais simples ato voluntário.
Ver o brilho nos olhos de quem necessita de tais ações é simplesmente, magnânimo!
Mas, é como eu disse: não existe "uma parte" daqueles que "necessitam" de ações voluntárias...eu entendo que TODOS NECESSITAM SER VOLUNTÁRIOS!
Já imaginou se tivéssemos um mundo mais humano, mais solidário e onde TODOS DESENVOLVESSEM AÇÕES VOLUNTÁRIAS???
Heim?? Já imaginou?? Ainda não????
Então você ainda não fez a sua parte!
Eu sempre estou fazendo a minha e a cada nova experiência, eu FICO nos meus casteloS: "JÁ IMAGINOU SE TODO MUNDO FIZESSE UM POUQUINHO?"
Convido-lhe a ser um voluntário. Independente de sua profissão...independente de sua formação...independente de quais quer situação que lhe impeça de locomover-se...ainda assim, podes ser um voluntário.
Doe-se! Faça a diferença! SEJA UM VOLUNTÁRIO!
E desfrute desta Dádiva maravilhosa de sentir o que estou sentindo neste momento, onde, por mais que eu escreva, não descrevo tal sentimento.
Abração e TAMUJUNTU.
A. Júnior - Limpo, Só Por Hoje.