Prontificar: Mostrar-se pronto; oferecer-se para; disponibilizar-se; dispor-se a:
Todos os Doze Passos dos grupos de A.A. e NA poderiam iniciar com a palavra “Prontificamo-nos”. Mas, ocultamente, essa palavra faz parte do contexto dos Doze Passos e todo o programa de recuperação dos Grupos Anônimos. Afinal, sem que haja prontificação, é impossível dar início a uma recuperação, pois é necessário mostrar-se pronto para admitir impotência, bem como é necessário dispor-se em aceitar ajuda e acreditar que somente Um Poder Superior poderá nos ajudar. É preciso se prontificar a entregar nossas vidas e vontades aos cuidados do Poder Superior, como é preciso prontificar-se a nos inventariar cotidianamente. Admitir nossos erros, nossas falhas, nossos defeitos de caráter e imperfeições requer que estejamos prontos a fazê-lo. As sugeridas reparações que façamos a quem prejudicamos, também é necessário que estejamos prontos.
Um adicto que não tenha recuperado a sanidade poderá ter certa dificuldade ao ler a introdução deste Passo. A primeira parte diz ― “Prontificamo-nos inteiramente”. Claramente percebemos que está referindo-se ao indivíduo ter ação de mostrar-se pronto. Nada mudará enquanto eu não estiver pronto. A outra parte diz para ― “deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter”. Dá até um entendimento de que podemos ficar sentado, sem precisar fazer nada, só esperando que Deus remova nossos defeitos de caráter.
Entretanto, este Passo diz respeito à disposição do indivíduo em oferecer-se para Deus, a fim de que seus defeitos sejam eliminados. Mas para que isso aconteça, é necessário que haja um trabalho espiritual intenso, diuturnamente. Não basta apenas querer que nossos defeitos sejam eliminados ou fazer por onde uma única vez. É um trabalho que perdura a vida toda.
Não se pode esquecer que muitos dos próprios defeitos não desaparecem – e isso ocorre com todo e qualquer ser humano, seja ele adicto ou não.
Para certas pessoas, será difícil se livrar de alguns de seus defeitos; para outros, parecerá até impossível – tudo por conta dos instintos humanos. Porém, mesmo que alguns defeitos possam não sumir, eles podem ser diminuídos. De toda forma, o ponto-chave para fazer valer este passo é “colocar-se à disposição”, “disponibilizar-se”, fazer com que o adicto queira o que de melhor possa vir a lhe ocorrer.
A natureza de nossa doença requer que estejamos sempre prontos e por inteiro, pois o uso da substância de nossa preferência (álcool e/ou qualquer outra droga) é apenas uma das características da doença que é comportamental, tornando possível uma recaída, caso não dispormos-nos a trabalhar nossos defeitos de caráter, os quais quase sempre nos levavam de volta ao uso.
Por isso, não apenas prontificar-se é necessário, pois nossa condição de adicto não permite que façamos as coisas pela metade. É tudo ou nada. É matar (nossa fissura) ou morrer (por conta dela). É preciso mostrar-se pronto por inteiro, ou seja, prontificarmo-nos inteiramente para permitir que O Poder Superior aja em nossas vidas, removendo nossos defeitos de caráter.
Combatemos nossa doença em duas frentes: lidando com a “fissura” instalada em nosso íntimo e mudando nossos pensamentos de praticar o erro. Nenhuma das batalhas é fácil de vencer. Cada uma requer de nós prontidão e voluntariedade diárias para permitir que O Poder Superior nos ajude a vencer nossos defeitos de caráter.
Como podemos dizer honestamente que estamos completamente prontos para nos prontificarmos a permitir que Deus remova os nossos defeitos de caráter?
O termo “completamente prontos” pode significar “chegar o mais perto possível da esperança da recuperação na nossa limitada condição de ser humano”. Quando fizermos isso, Deus nos encontrará ali e nos levará pelo resto do caminho. A palavra traduzida por “completamente” pode ser entendida como “aumentando progressivamente a medida cada vez que chegamos.”
Estar “inteiramente prontos” significa que não conseguimos mais usar nossas desculpinhas como justificativas para negar o mal estar, aquela ressaca moral que sentimos quando agimos de forma que são contrárias àquilo que eu gostaria de ser. Esta sensação desconfortável é o maior sinal que já houve um despertar espiritual, que temos consciência disto, mas não temos competência para lidar com isto... É aí que está a essência do Sexto Passo. ― É eu me prontificar para que Deus remova meus defeitos.
Estar “inteiramente prontos” para que Deus elimine “todos” os nossos defeitos de caráter soa impossível. Na realidade, sabemos que tal perfeição está fora do alcance humano.
A maioria de nós fez numerosas tentativas de aperfeiçoamento pessoal. Talvez tenhamos tentado, conscientemente, melhorar as nossas atitudes, a nossa educação, a nossa aparência ou os nossos hábitos. Talvez tenhamos conseguido uma certa medida de aperfeiçoamento pessoal. No entanto, quando se trata de nossa lutas contra os defeitos de caráter, o mais provável é que tenhamos experimentado somente uma profunda frustração.
Há uma razão que explica a nossa frustração. Os defeitos de caráter somente podem ser removidos, não aperfeiçoados!
Por isso, precisamos ter os olhos fixos num ponto muito, mas muito distante, chamado “PERFEIÇÃO”. E apesar de termos consciência de que ali jamais chegaremos, sabermos que, dentro de nossas limitações humanas, estamos para lá caminhando, conseguindo o aperfeiçoamento.
Precisamos praticar esses passos pelo resto da nossa vida. Não temos de exigir perfeição de nós mesmos; é suficiente continuar progredindo da melhor maneira possível. Mas existem algumas situações que podem nos desviar deste objetivo, tais como a acomodação (Eu ainda não estou pronto. Quem sabe amanhã?).
Precisamos estar prontos e termos disposição para esta prontificação; E a justificação – (aquela mesma justificação do tempo de ativa, sempre uma desculpa e nunca uma posição definida. E isto é perigoso e nos faz sofrer, pois agindo desta forma não teremos como controlar a raiva, o ciúme, a compulsividade e a inveja. E iremos dizer: “Não vê que sou doente!?!?!” Somente justificativas para deixar tudo como está.).
Para algumas pessoas é difícil se livrar de certos defeitos de caráter, enquanto que para outros, pode até parecer impossível – tudo por conta dos instintos humanos.
Levemos como exemplo os sete pecados capitais. Orgulho, Avareza, Luxuria, Ira, Gula, Inveja e Preguiça. Ninguém quer ter estes defeitos aos extremos, mas muitos de nós ainda não conseguimos eliminar alguns deles, porque são defeitos que, quando bem equilibrados, nos ajudam em nosso próprio bem estar.
Por exemplo:
- Quem não gosta de ser um pouco superior aos outros?
- Quem não gosta de ser um pouco ambicioso?
- Quem não tem suas fantasias sexuais, mesmo em seu mais profundo intimo?
- Quem muitas vezes não fica buscando retidão quando se sente ofendido?
- Quantos de nós não tivemos
um momento de gula?
- E a preguiça? A preguiça é o pecado que mais sabemos disfarçar.
- E o que dizer da inveja?
- Porque trabalhamos tanto para ter o que outros possuem? A gente trabalha incansavelmente em busca de dar conforto a nossa família, em busca de garantir nosso futuro e o futuro de nossos filhos, em busca de uma boa aposentadoria, mas nunca trabalhamos para ter o necessário para nossa sobrevivência.
Enquanto não conseguirmos transformar o inaceitável em aceitável, bem como transvalorar os valores agregados ao que o Sexto Passo conceitua “defeitos de caráter”, algo que até parece ser monstruoso, tão horrível que até evitamos encará-los de frente, certamente não conseguiremos o resultado desejado e esperado com a prática deste Passo.
Portanto, nesta nova etapa no processo de recuperação, é importante lembrar que somos humanos, imperfeitos e não devemos colocar expectativas irreais em nós mesmos. Mas também é imprescindível que tenhamos a compreensão da necessidade de estarmos dispostos a permitir que O Poder Superior remova nossos defeitos de caráter, pois do contrário, podemos sutilmente nos iludir, acreditando que nada que façamos hoje não pode ser pior do que qualquer atitude que tivemos na ativa. E esse errôneo pensamento, ao decorrer de nossa recuperação, fortalece a imunidade em relação ao defeito de caráter que ainda renegamos em trabalhá-lo, crendo que certos sentimentos, emoções e comportamentos são permitidos.
“Enfim, o Sexto Passo é o filtro, a triagem, a separação do joio e o trigo. Deixei para o fim a parte espiritual. Existem classificações humanas do reino vegetal, reino mineral e reino animal. O Sexto Passo é a procura do reino espiritual! É o ‘venha a nós o vosso reino’, da oração ― Pai Nosso - acrescido da fé.” (Hélcio/1993)
Que DEUS, em Sua infinita bondade, nos conceda o direito de reconhecer, aceitar e realizar a Sua Vontade em todas as nossas épocas e lugares, para que somente assim, possamos ser merecedores de suas Dádivas, tais como sobriedade, serenidade e condições de prontificarmos-nos inteiramente a deixar que Ele remova nossos defeitos de caráter.
Bom! Esta foi minha participação no V Ciclo de Estudo dos Doze Passos, realizado em Brasília/DF, nos dias 09, 10 e 11 de Outubro/2015.
Desejo que todos estejam bem, desfrutando de muita saúde e paz, juntamente com todos os que lhe são caro.
Continuo sendo o Júnior, um adicto em recuperação, limpo, só por hoje.
Bons momentos a todos e... TAMUJUNTU!!!