Tá bom, crescer dói.
Sim, é essa a verdade, não importa quanto tempo limpo, quantas obras concluídas, quanto de ajuda oferecermos ao que ainda sofre, seguiremos sentindo dor. Depois da tempestade, vem a bonança, e logo depois, mais tempestade.
Sou dependente quimico, e neste momento, não estou mais consumindo drogas. Mas é um momento que não garante o próximo: tempestades virão.
Então, não se trata de terminar a dor, isso não acontecerá.
Então, porque deixei de usar drogas?
A resposta esta diante de meus olhos, todos os dias, a cada momento: sou capaz de viver, apesar da dor, e viver bem, e viver muito. Sou capaz de atravessar esse deserto, e o próximo deserto não me parecerá assim tão assustador.
E depois que eu perder esse medo de desertos, deixarei de fixar meu olhar nele, e verei que há algo além desse deserto. Que, aliás, não era assim tão assustador, por que agora, eu sei lidar com ele, eu o conheço, e me fiz amigo dele.
Há coisas ruins nessa louca vida. Mas quantas são piores que o medo e a culpa? Quantas são mais destrutivas ou paralizantes? Qual desafio maior que abandonar esse medo e essa culpa? Sim, claro, devem existir, mas, pra mim, esses são os maiores, por agora, é deles que estou me ocupando. Vencendo muito, mas muito devagar, talvez seja assim mesmo, a passo de formigas.
Passei muitos e muitos anos me drogando, não sei se seria capaz de lidar com as dadivas da recuperação se elas me caissem do céu, talvez deva ser assim mesmo, muito devagar.
Tenho esperança, por que esse novo sentimento de poder escolher me permite espiar pela porta do futuro e vislumbrar que há....algo bom além dela. Não deu pra ver o que é, mas sim que é bom. Vou seguir nesse caminho, acredito nele. E não tenho, pra falar a verdade, nenhum outro que pareça ser assim tão bom.
Bons momentos.