“Admitimos a Deus, a nós mesmos e a outro ser humano a
natureza exata de nossas falhas.””.
Admitir.
Confessar. Declarar como tal. Concordar
como certo. Reconhecer. Assumir.
Todos
esses verbos são realmente impactantes na vida de um adicto, quando de sua
ativa. Dificilmente um de nós chegou à sala, sem que antes tenha negado,
rejeitado, impugnado, contestado sua maneira de usar drogas como sendo
descontrolada. Realmente não é fácil reconhecer um erro, uma falha, muito menos
uma impotência. Tivemos que fazer isso quando iniciamos nossa caminhada rumo a
sobriedade, admitindo que nossas vidas haviam se tornado ingovernáveis e que
havíamos perdido o controle sobre nossa maneira de usar drogas. Demos, finalmente,
o primeiro passo em NA e/ou em A.A..
Mas
permanecer sóbrio é muito aquém de permanecer limpo, abstêmio. Sobriedade é um
estado emocional e não apenas um período de abstinência contínua. Muitos de nós
permanecemos “limpos, só por hoje”, mas continuamos com aquelas velhas manias e
atitudes de outrora, quando ainda de nossa ativa, com comportamentos de um
verdadeiro “bêbado seco”, como dizemos na sala.
Continuamos
seguindo nosso sugerido programa de recuperação e nos deparamos com os passos
seguintes, nos revelando que somente um Poder Superior a nós poderia nos
devolver a sanidade e decidimos entregar nossas vidas e vontades ao cuidado
Dele. Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos e agora
temos que admitir a natureza exata de nossas falhas perante Deus, perante nós
mesmos e perante outro ser humano. Nem todos conseguem ser honesto consigo
mesmo e a recuperação fica distante.
Uma
característica de quase todos os que sofreram (sofrem) com alguma dependência,
é o isolamento. Mesmo em meio a uma
multidão, ou participando de atividades em que outras pessoas se sentiriam
unidas, não nos sentimos que fazemos parte daquele grupo. Mas quando chegamos à
sala de nossos grupos de mútua ajuda, começamos a sair do isolamento emocional.
No início, alguns de nós ficamos apenas ouvindo, pois é difícil vir a público e
ter que falar de si coisas vergonhosas e que nos faziam sentir frágeis.
Entretanto, é dessa fraqueza que vem a força de dar a volta por cima.
Quando
começamos a admitir para nós mesmos que temos uma falha; quando procuramos de
alguma forma partilhar isso com nosso Poder Superior e somos honestos com nós
mesmos e com outro ser humano, nossa sensação de inferioridade deixa de tomar
espaço em nossa mente e em nossos corações, dando uma pequena, porém,
significativa “brecha” para que possamos ouvir, mesmo que silenciosamente, uma
fala, uma palavra, uma opinião, uma sugestão, um conselho, uma partilha, uma
linguagem do coração, algo que possa nos mostrar que somos falhos, mas que não
necessariamente devemos viver falhando. Somos imperfeitos, mas podemos a cada
dia, procurar nos aperfeiçoar. E para isso, temos Doze, porém, longos Passos,
que nos libertam de toda e qualquer falha e defeitos de caráter. Basta que
procuremos vivê-los intensamente, a cada instante de nossas vidas.
A
confissão é um ato muito antigo, usado para livrar o ser humano do peso do
erro. Quando se trata em ter que admitir perante outro ser humano a natureza
exata de nossas falhas, surge aqui uma grande diferença entre o que partilhamos
em sala e o que devemos partilhar com nossos padrinhos/madrinhas. Eis aqui um
detalhe que faz toda uma diferença, pois nem todos os que hoje chegam à sala,
encontram apadrinhamento necessário para sua aplicabilidade dos Doze Passos.
Como dizia Bill W. Co-fundador de A.A. : “ Muitos ainda virão à nossa Irmandade
e voltarão a beber devido a falta de apadrinhamento necessário ao seu grau de
alcoolismo”. É bem verdade isso. Não encontramos mais
aqueles companheiros (as) com tempo, amor e boa vontade em nos conduzir a um
porto seguro, nos mostrando como realmente funciona nosso sugerido programa de
recuperação. Isso consequentemente nos deixa sem muita opção de encontrar um
padrinho para trabalhar os Passos, o que pode fazer um grande diferencial, pois
ao trabalhar o Quinto Passo, por exemplo, devemos saber com quem iremos
confessar esses que julgamos ser nossos maiores defeitos de caráter. E sendo assim, logo nos vem àquela velha
ideia de que “posso deixar pra trabalhar isso depois, já que não está me
atrapalhando tanto assim”, ou mesmo “posso deixar pra trabalhar esse Passo
depois, já que não tenho ninguém de confiança pra partilhar”. Isso seria o mesmo que reconhecer uma infecção
e deixar de tratá-la.
Aqui
deve prevalecer o critério da honestidade para consigo mesmo. Uma vez admitida
nossa derrota completa... Uma vez reconhecida nossa impotência perante nosso primeiro
gole... Uma vez confessado a si mesmo quais são nossas falhas (aquelas
relacionadas em nosso Quarto Passo), não podemos fazer ao nosso
padrinho/madrinha, uma confissão superficial de nossas falhas. Tem que ser “a
natureza exata de nossas falhas”, justamente para evitar a camuflagem de falhas
que podemos achar que vamos levar para o túmulo.
Ao
praticar o Quinto Passo sem apego a nenhuma dessas falhas que confessamos, nos
livraremos da forte carga emocional que tanto nos incomodou e somente daí por
diante, podemos estar aptos a desfrutar de uma verdadeira sobriedade emocional,
além, claro, de nossa valiosa abstinência.
A confissão dá início ao reparo e restabelecimento
de relacionamentos desfeitos. Ao fazermos o Quinto Passo, começamos a
reconhecer que foi nossa fraqueza que influenciou nossas escolhas e começamos a
compreender nossa tendência a ter pensamentos e emoções negativas, tais como
egoísmo, medo, orgulho, inveja, justificação de nossos erros, raiva,
ressentimentos, paixão e desejos não reprimidos, etc.
Não podemos confundir o Quinto Passo com um desejo
obsessivo de estar revivendo aquelas insanidades da ativa. O propósito do
Quinto Passo é justamente o oposto disso. Fazemos o Quinto Passo não para
reviver aquelas coisas que confessamos, mas para começar a distinguir o bem do
mal para nós mesmos e escolher o bem.
Dizemos que o Quinto Passo é à saída do
isolamento. De fato, encontramos em nossas trocas de experiências, algo que
jamais iríamos encontrar, colocando a culpa de nossos problemas nos outros.
Quando nos abrimos para ouvir partilhas de fé, forças e esperanças e ao mesmo
tempo nos colocamos em condições de admitir nossas falhas, estamos prontos a
seguir em frente e permitir que Deus remova todos esses nossos defeitos de
caráter... Agora é só nos prontificarmos!
Bons momentos a todos!
TAMUJUNTU.
Júnior, um adicto em recuperação, limpo, só por
hoje!