Saudações, meus queridos(as)!
Espero que estejam todos bem,
desfrutando de saúde e bons momentos, ao lado dos que vos são caro.
Em a um feriadão prolongado
desse, tirei esse momentinho para meus queridos(as) companheiros(as) de blog,
para postar aqui.
Estou realmente em dívidas para com
vocês, diante dos dias que fazem que estou de volta de Recife/PE e ainda não
postei nada aqui. Recebi vários e-mails e ligações perguntando se estava tudo
bem e fico grandemente agradecido a todos pela atenção.
O que estou sentindo neste momento já
me é peculiar. Já voltei a minha realidade. Já estou com os pés no chão. Já
estou mais tranquilo. Entretanto, o que eu senti estes dias atrás,
sinceramente, nem sei explicar.
Resumidamente, posso dizer que meus
dias de viagem foram dentro do que eu espera ser.
Em Barreirinhas, nos Lençóis
Maranhenses, tudo mil maravilhas. Aproveitei muito cada instante naquele lugar
maravilhoso.
Explorei demais cada momento para minha meditação e consegui sair
de lá muitíssimo bem, diga-se de passagem.
Acredito que se não fosse esse meu
retiro, dias antes de enfrentar minha ida à Recife, certamente as coisas teriam
sido bem mais difíceis para mim.
Sem dúvidas, o clima deste lugar encantador e as horas que dediquei a minha meditação, trouxeram-me uma paz e um equilíbrio emocional que eu realmente estava necessitado.
Na parte que se trata de minha estadia
em Pernambuco, posso dizer que se divide em três partes. Uma delas a minha
participação nos Eventos aos quais fui participar. A segunda dela quanto as
minhas broncas por lá e a terceira delas a minha família.
No que diz respeito aos Eventos, foi
tudo magnânimo, como já se era esperado. As coisas em nossa Irmandade são
realmente Divinas.
Quanto as minhas broncas...também como
já se era esperado, passei por momentos em que tive que “vazar” rapidamente do
local, para evitar maiores complicações.
Atrevidamente, fui a locais onde não
deveria ter ido e isso causou até certo desconforto aos meus irmãos que moram
por lá, já que após minha retirada, elementos foram até eles perguntar por mim.
Realmente ali não dá mais para mim. Eu
já imaginava isso, mas agora pude comprovar o quanto ainda tá “sujeira” pra eu
andar pela localidade.
Embora muitos dos que me procuravam já
nem estão mais vivos, ainda assim, há alguns que podem ser a diferença, como um
cara que, na minha época, ele era vigia de rua, sabe tudo sobre mim, me viu por
lá e, rapidamente, saiu espantado... Acredito que tenha sido ele quem espalhou
que eu estava na área. Não sei...também, não importa.
O importante é que eu fui e consegui
voltar. Só espero agora que continuem deixando meus irmãos quietos, pois eles
não tem nada haver comigo. Minhas broncas são minhas broncas e isso eu já
deixei claro várias vezes... E se mexerem com eles....
Se bem que no crime, não existe isso
não....mas é o risco que se corre!
Agora, no tocante a minha família, aí,
sim....é difícil falar.
Falar de sentimentos inenarráveis, a
própria palavra já diz.
Houve momentos que foram bacanas, pois
tenho um casal de Filhos por lá, os quais nos encontramos, passeamos, nos
divertimos, etc. Tenho também outros familiares, que também fiz visitas, passei
bons momentos ao lado deles, como foi com meu Sobrinho, filho do meu Irmão que
tá morando lá na Bahia. Foi muito legal ter reencontrado com ele. Tá um
rapagão, enorme.
A parte mais triste... Meus Irmãos
mais novos... Estes estão mesmo numa situação crítica, de fazer dó.
Como muitos de vocês sabem, eu já
havia contactado alguns amigos meus para que pudesse localizar eles, tentar
marcar um encontro entre eles, como se fosse dar algo pra eles, etc. Isso foi feito. Um dos meus amigos conseguiu
falar com o mais novo e disse pra ele que tal dia e tal hora ficassem em tal
lugar que ele iria trazer algo para ele.
Assim que desembarquei no Aeroporto,
um amigo meu estava a minha espera. Resolvi que nem iria com ele naquele
primeiro momento, pois iria atrás de meus Irmãos. Ele levou minha bagagem e eu
segui para o Bairro onde nasci e me criei que é justamente onde eles estão
circulando.
Ao descer do ônibus, notei logo a
grande diferença no local. Está tudo muito mudado. O Ipsep já não é mais o
mesmo.
Continuei andando, mais desconfiado de
que cachorro quando rouba um pedaço de carne.
Entrando na rua que eu morei, bastou
caminhar pouco para que eu encontrasse um conhecido. Ele não me reconheceu logo
de imediato, mas na conversa, ele me conheceu e disse: “Teu meu irmão tá na
esquina com um amigo dele.”.
Eu avistei umas carroças e perguntei
se era eles, o que me foi respondido: “Sim!
Tá ‘Cotonete’ e um amigo”.
(“Cotonete” é o apelido de meu Irmão mais novo).
Meu coração palpitava forte. Um
suspense enorme diante de reencontrar com ele, pois este era o que mais me
evitava. Durante esses anos todos que estive longe, ele nunca queria falar
comigo por telefone. O outro até que já havia vindo aqui por duas outras ocasiões,
anos atrás, mas esse mais novo não queria nem conversa comigo, achando que eu
iria querer “regular” a vida dele.
Sempre olhando para trás, com medo de
ser visto por quem não podia, segui em direção a eles. Comecei a avistar que
havia alguém sentado na frente da barraca de Sr. Antônio, um local que era um
dos meus pontos de bebedeiras.
O que eu vou contar agora, as palavras
não consegue expressar meu sentimento. Por mais que eu queira, não conseguirei
transmitir para vocês, o que eu senti naquele primeiro momento.
Simplesmente, eu não o reconheci.
Jamais imaginei que ele estivesse daquele jeito. Se bem que eu sabia que ele
estava morando na rua, mas pensei que ao vê-lo, fosse de imediato,
reconhecê-lo.
Eu cheguei a perguntar a ele por ele
mesmo... Acreditam nisso??
Pois foi exatamente o que aconteceu!!
Eu perguntei a ele por ele.
Como meu amigo acabara de dizer que
ele estava na esquina com um outro amigo dele, eu me aproximei e, ao ver apenas
um sentado e não o reconhecendo, logicamente que eu imaginei ser o amigo dele.
Então, eu passei por ele, apenas acenei com a cabeça, ele retribuiu e eu passei
direto, parando logo no canto da barraca.
Olhei para um lado e para o outro, não
vi mais ninguém. Então, logo imaginei que o meu Irmão tivesse ali por perto,
haja visto que fui informado que ele estava ali, agora mesmo, com um amigo
dele.
Assim sendo, virei-me novamente para o
“amigo dele” e perguntei:
“ -Mário disse que tu tava aqui com
‘Cotonete’...cadê ele?”
Ele, ao reconhecer minha voz, olhou
espantado para mim e disse:
“-Ôxe! Óia quem é!!!!!”
Naquele momento, meus ouvidos
reconheceu o timbre da voz dele que, apesar de enfraquecida, me era familiar.
Rapidamente eu indaguei:
“-Nani?!?!!!??”
Ele disse: “-Ôxe, meu Irmão!! Tas me conhecendo não, é??!!??”
Uma mistura de alegria e tristeza
tomou conta de mim... Alegria por ter reencontrado meu Irmão... Uma tristeza
por ter reencontrado ele daquele jeito, sentado no chão, todo sujo, resto de
comida ao lado, cheio de formigas, cabeludo, barbudo, etc, etc, etc...
Puta que pariu, véi!!!!!
Se tivesse naquela hora um botão que
acabasse com o mundo, eu o teria acionado... Desculpem vocês que não tem nada
haver com a situação, mas teriam ido junto também. Foi como se fosse a última
coisa que eu quisesse ver na face da terra.
Eu, que lido tanto com situações como
estas... Eu que estou dia a dia lidando com moradores de rua... Eu que já
estive nas ruas também, ainda assim, foi demasiado impactante para mim, ver
meus Irmãos naquela situação.
Um choro tomou conta de mim e, por alguns
momentos, eu me perguntava se eu estava chorando de alegria ou de tristeza.
Pedi pra ele se levantar para dar um
abraço e ele disse que não tinha forças. Dei-lhe a mão e o puxei para um abraço
tão forte, que quase o quebro no meio.
Em meio ao abraço ele me disse que
estava sujo e que iria me sujar e eu disse que já estive bem mais sujo de que
ele e que sujeira era eu ficar ali por muito tempo, pois ele sabe muito bem de
minha situação.
Algumas pessoas passavam e ficavam
olhando eu abraçando tão calorosamente um morador de rua e logo paravam para
ver do que se tratava. Principalmente por me ver tirando algumas fotos e o abraçando
incansavelmente.
A princípio, até eu mesmo me senti
desconfortável por estar tirando aquelas fotos. Entendo que até ele mesmo não
estava se sentindo bem com aquilo, mas eu fiz questão de tirar. Preciso
registrar aqueles momentos dele(s), para que futuramente, quando eles derem a
volta por cima, (e eu creio nisso), eles possam ter algo para mostrar como eles
viviam e testemunhar que é possível sair do fundo do poço, QUANDO SE QUER.
Se eu for contar aqui toda a situação,
certamente daria um livro. Mas quero abreviar dizendo que estive com ele por
alguns instantes. Até fiquei mais do que poderia. Disse que iria voltar
novamente, mas que não poderia ficar ali por muito tempo. Ele concordou e disse
que realmente não era bom eu ficar por ali. Conversamos um pouco. A princípio,
ele não queria nem conversa com a possibilidade de sair das ruas. Nem queria
falar com ninguém da família, mas, com um pouco de conversa, eu o fiz falar com
Mainha por telefone.
Quando eu já estava saindo, ele me
pediu um trocado e, mesmo contrariando a maneira coerente de lidar com estas
situações, eu lhe dei.
Ele me disse onde encontrar o outro
Irmão e rapidamente eu fui atrás. Este já estava numa localidade ainda mais
“sujeira” pra mim ficar “roletando”. Mesmo assim, eu estava disposto a correr
todos os riscos...e fui lá.
Ao descer do ônibus, eu o avistei logo
de longe.
Estava mexendo num fogo, cozinhando um feijão. Ele me viu também de
longe e ficou olhando, tipo pensando: “Será que é ele mesmo???!!!???”.
Quando cheguei mais perto, ele abriu
um sorriso e foi logo chorando.
Este meu Irmão é o aquele que eu já o
trouxe pra cá outras vezes.
Ano passado mesmo, meu Irmão levou ele
para Bahia, mas ele passou pouco mais de um mês por lá. Ele tem uma ex-mulher e umas Filhas que
moram lá por perto de onde ele costuma ficar, mas também não consegue sair das
ruas.
Ao nos abraçar, ele chorou muito. Eu
também.
Sinceramente, só em falar isso aqui,
estou daquele jeito.
Tenho tantas coisas para falar, mas
infelizmente não estou em condições de comentar.
Passei esses dias todos para fazer
essa postagem, justamente pelo fato de não me achar preparado para tá abordando
detalhadamente a situação em que se encontram meus Irmãos. É tanto que cheguei aqui e coloquei as fotos
para minha esposa ver e acabei me sentindo mal. Quando comecei a escrever aqui,
até pensei que fosse ser menos impactante, mas estou vendo que ainda está sendo
difícil para mim digerir essa situação.
Quando comecei a escrever, fiz aqui certa
Pauta do que eu iria abordar, até mesmo porque eu tenho várias outras coisas
para comentar. Mas peço desculpas a vocês por não fazer neste momento.
Resumo dizendo que voltei várias vezes
neles. Tentei de todas as formas trazê-los comigo, mas eles não quiseram. Após
várias conversar, consegui (ou pelo menos espero que tenha conseguido) fazê-lo
assumir um acordo de que no início do ano, eles comecem a trabalhar com um
amigo nosso, que ganhou eleições para Vereador. Diga-se de passagem, esse nosso
amigo está sempre ajudando eles, inclusive, já trabalharam com ele muito tempo
e ainda hoje ele disponibiliza vaga, na hora em que meus Irmãos quiserem.
Eu acredito em MILAGRES, pois eu sou
um. Eu também estive na mesma situação deles. Aliás, estive numa situação bem
pior de que a deles. Mas eu consegui, somente por UM MILAGRE, dar a volta por
cima. Sei que não é tão fácil assim, mas é possível.
Não tenho o menor direito de julgar
meus Irmãos e nem tantos outros que hoje estão na mesma situação deles. Tenho mais
é que entender e minha maior ajuda é, e sempre será, me colocar no lugar deles,
tentando fazer por eles o que eu sou grato por terem feito por mim.
Um dos momentos que também me marcou, foi reencontrar amigos meus, que convivi quando de minha ativa...um deles é este aqui... Morei nas ruas com este brother. Ele é um hippie e ainda hoje continua na ativa. Usamos muita droga injetável juntos, inclusive, compartilhando seringas.
Quero finalizar aqui com as fotos que
mais marcaram essa minha viagem.
Meu Irmão mais novo (dos homens).
Momento em que eu consegui fazê-lo falar com Mainha.
Tomando um caldinho de feijão, como nos velhos tempos de ativa.
Neste momento, ele dormia ao lado do Apto. onde morávamos.
Depois de nove dias, ele resolveu tomar um "banho" e trocar de roupa.
Aqui foi na hora que eu estava para voltar e fui me despedir dele.... :(
Que O PODER SUPERIOR, em Sua Infinita
Bondade, nos conceda o direito de reconhecer, aceitar e realizar a Sua Vontade
em todas nossas épocas e lugares, para que só assim, possamos ser merecedores
das Dádivas de dias limpos e serenos.
Abração e bons momentos a todos!
TAMUJUNTU.
Júnior, um Adicto em Recuperação,
Limpo, Só Por Hoje!